O ex-presidente do Uruguai José Alberto Mujica, 80, defendeu a descriminalização das drogas durante um evento em sua homenagem, nesta quinta-feira (27/8) na sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no centro do Rio. Atualmente, o STF (Supremo Tribunal de Justiça) discute se é crime ou não o porte de drogas para uso próprio no Brasil.
"No Uruguai ainda não tivemos tempo suficiente para avaliar os resultados da liberação. O narcotráfico é pior do que a droga. O que queremos é assegurar uma compra segura sem que tenha que recorrer ao tráfico", disse o ex-presidente, que legalizou a comercialização da maconha em 2014 no Uruguai.
Indagado sobre movimentos que clamam pela volta da ditadura militar, Mujica, que ficou preso por 14 anos por lutar contra a ditadura no Uruguai (1973-1985), como membro do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros respondeu que "há loucos por ai". Bem-humorado, completou citando um ditado popular castelhano. "No creo en brujas, pero que las hay, las hay".
O ex-presidente falou a uma plateia de convidados ao receber o prêmio "Personalidade Sul 2015" oferecido pela Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul (Federasur). A premiação, em sua primeira edição, celebrou a sua trajetória.
Encontro na UERJ
À noite, Mujica participou de um encontro com jovens no anfiteatro –conhecido como Concha Acústica– da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). O encontro com os jovens foi uma solicitação feita por Mujica para participar premiação na ABI.
Aos jovens, o ex-presidente disse que as prisões ajudam a multiplicar as deformações sociais e que narcotráfico redefiniu os limites moral da violência.
"O cárcere deveria ser recuperador. Mas a prisão só não ajuda a superar as deformações sociais, como as multiplicam. Não creio que o caminho de intensificar as penas ajude porque o que temos para oferecer é muito pior. O narcotráfico trouxe uma estrutura redefiniu os limites moral da violência. Eu creio que esta é uma das piores ofensas da civilização humana até hoje. Não há dúvidas de que é uma questão que merce ser repensada", disse Mujica.
O ex-presidente lembrou aos jovens que "não podemos imitar a Europa, não vamos buscar desenvolvimentos com sofrimento, com arrocho. Queremos desenvolvimento com felicidade porque a generosidade é o melhor negócio da humanidade. O pior são os bancos."
Mais uma vez, Mijuca lembrou o caso aconteceu no Uruguai para reprimir o tráfico de drogas. "Se você quer mudar, não pode seguir fazendo o mesmo. No meu país pequeno, vimos que não conseguíamos simplesmente reprimir o tráfico ou o delito que alguém cometeu para comprar droga. E como apesar de reprimir estamos perdendo a guerra, decidimos tratar do assunto como qualquer negócio. Isso não é legalização, isso é regulamentação. Hoje não há outra alternativa do que comprar no mundo clandestino. Nós no Uruguai não cremos que drogas sejam boas. Todas são ruins, desde o cigarro. Se eu tomo Whisky todo dia, não é bom. Se eu tomo uma garrafa, vou internado".
"Se permitimos o mundo clandestino, não temos controle. Se as pessoas querem e podemos controlar todos os dias um pouco, podemos agir. De outra forma, quando se vê, é tarde demais. Não é legalização. Não é viva o fumo. Isso é uma praga", concluiu Mujica que antes de sair tirou uma foto em frente ao público que participou do evento.
Legalização
Em dezembro de 2013, o Uruguai legalizou a produção e venda de maconha no país. Pela nova legislação, que passou vigorar em 2014, os uruguaios e estrangeiros que residem no país e têm mais de 18 anos poderão comprar até 40 gramas da erva por mês em farmácias credenciadas
Fonte: Folha de S.Paulo