O engenheiro Douglas Oliveira, de 32 anos, terá de apelar à Justiça para tentar se livrar de uma doença com a qual convive há 8 anos e que causa inflamação no fígado.
Foi acidentalmente, durante uma bateria de exames em 2007, que ele descobriu que era portador do vírus da hepatite C, contraído ainda nas primeiras semanas de vida, durante uma transfusão de sangue.
“Isso ocorre, pois a evolução é longa e pode levar anos para chegar a um quadro mais avançado. A hepatite C leva de 25 a 30 anos para evoluir. A mesma coisa ocorre com a B. O vírus está ativo e degenerando (o órgão), mas geralmente é assintomático”, explicou o presidente da SBH (Sociedade Brasileira de Hepatologia), Edison Parisi.
A hepatologista do Centro de Gastroenterologia do Hospital 9 de Julho, Marta Deguti, explica que a contaminação como o caso de Douglas era bastante comum até a década de 1990 porque não eram feitos testes para identificar o vírus. “A hepatite C era desconhecida até 1989”, disse a médica. “Qualquer pessoa com mais de 30 anos precisa fazer o exame de hepatite”, alertou.
A SBH calcula que 2 milhões de pessoas no Brasil tenham a doença, mas 60% delas não sabem da existência. As hepatites são as principais responsáveis por câncer e transplante de fígado. A inflamação evolui para um quadro de cirrose.
Apesar de ser uma doença crônica, a hepatite tem cura e foi atrás dela que Douglas se submeteu a um longo e doloroso tratamento de 48 semanas. Eram cinco comprimidos por dia e uma injeção todas as sextas-feiras. “Eu tive muitos efeitos colaterais: perdi o cabelo e emagreci 16 quilos, e ainda assim não consegui eliminar o vírus”, disse o administrador. As chances de cura eram de 50%.
Determinado a não reviver a experiência, Douglas briga agora para conseguir os medicamentos mais modernos - com tratamento de 12 semanas e índice de 90% de cura - que estarão disponíveis no SUS a partir de dezembro. “Nesse primeiro momento, apenas quem tem a doença em estágio mais avançado (fase 4 e 5) vai poder receber esses medicamentos mais eficazes”, explicou Parisi.
Douglas, na fase 1 da doença, não está disposto a esperar a evolução da patologia ou até que o medicamento seja disponibilizado para os estágios iniciais da doença. “Eu quero ser pai e não posso colocar a minha namorada em risco. Vou entrar na Justiça para conseguir o tratamento logo após dezembro”, disse o engenheiro. “Não posso esperar por cinco ou dez anos para ter a cura dessa doença.”
Fonte: Diário de S.Paulo