O Banco Central não está disposto a subir a taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, ainda que o balanço de riscos tenha piorado, conforme demonstrou a ata do Copom. A autoridade monetária não quer ser uma fonte de volatilidade para o mercado e, assim, segundo uma fonte da equipe econômica, deve ter "paciência", "esperar a poeira baixar" e avaliar se há riscos de a inflação escapar da meta em 2016. O elemento mais importante nessa definição é a relação entre o hiato do produto e o câmbio.
É essa equação que explica a queda da projeção do BC, para perto do centro da meta, para a inflação de 2016 no cenário de referência. Embora o dólar tenha subido de R$ 3,25 para R$ 3,55 na ata anterior, o hiato do produto também abriu. Essas variáveis têm impacto mais efetivo nas expectativas de inflação e, portanto, determinarão os próximos passos do BC.
A deterioração do quadro fiscal tem efeito sobre a inflação, mas muito mais indireto. O corte de gastos discricionários, explicou a fonte ao “Valor”, pode contribuir para reduzir a inflação no futuro. Mas, no curto prazo, o principal impacto tem a ver com a confiança.
Hoje, todos os ativos – câmbio, juros, CDS e bolsa – embutem um nível elevado de prêmio de risco por causa da incerteza com o rumo da política fiscal. A reação do governo à perda do "investment grade" pode, até outubro, levar à redução desse prêmio de risco e, assim, afastar a necessidade de reação do BC.
"Há tempo hábil para reverter esse quadro negativo e segurar as outras agências de rating", afirma a fonte da equipe econômica. Em sua avaliação, o que detonou a decisão da S&P e também a deterioração recente do mercado financeiro foi a ambiguidade do discurso do governo. "Não ficou claro se a previsão de um déficit primário tinha o objetivo de forçar uma discussão para o curto prazo ou se foi uma decisão de uma ala do governo que acha que o esforço não vale a pena", afirmou esse interlocutor.
A reação considerada moderada do mercado financeiro ontem – o dólar tocou os R$ 3,91 na máxima do dia, mas terminou cotado a R$ 3,8488 – é uma demonstração de que há uma expectativa de que essa ambiguidade se resolva. O rebaixamento pela S&P, portanto, não deverá provocar uma fuga de capital. "A verdadeira crise será detonada caso uma segunda agência tirar o grau de investimento do país. Isso, sim, geraria uma fuga de capital muito intensa", diz a fonte oficial.
Evitar esse cenário mais extremo depende do governo. E, para o Banco Central, a orientação continua a mesma: entregar a inflação na meta em 2016.
Fonte: Valor Econômico