O conservador Mauricio Macri surpreendeu o kirchnerismo e levou com folga a eleição argentina para um segundo turno inédito. Conforme dados divulgados às 2h desta segunda, 26, contrariando a boca de urna de todos os partidos, ele aparecia com 35,4% dos votos, com 79% das urnas apuradas. Daniel Scioli tinha 35,5% e terminaria em primeiro por pequena vantagem. Trata-se da maior derrota imposta ao projeto kirchnerista.
O sinal de que os dados não eram os que o governo esperava veio às 23h30, quando o representante kirchnerista convocou indecisos em seu discurso, indicando que esperava um segundo turno em 22 de novembro. Um Scioli de semblante cansado repetiu mecanicamente promessas de campanha. “Se fosse por Macri, não teríamos a bolsa universal por filho”, disse, referindo-se ao principal plano social de Cristina Kirchner. O ataque a Macri foi outro sinal de que ele esperava seguir em campanha.
Um péssimo resultado kirchnerista na Província de Buenos Aires, em razão da impopularidade de Aníbal Fernandez, chefe de gabinete de Cristina e candidato a governador, era a explicação na campanha sciolista para o desempenho negativo. Ele perdia o governo historicamente peronista para Maria Eugenia Vidal, a candidata de Macri. Isso puxou Scioli para baixo.
No comitê de Macri, a animação era evidente com os dados extraoficiais. Ele falou à 1h desta segunda e pediu a união dos votos opositores em torno dele. “Chamo até mesmo aos eleitores de Scioli”, disse. “Vamos representar essa massa que quer mudança”, disse Ernesto Sanz, possível de ministro de Justiça de Macri.
O chefe de campanha de Macri, Marcos Peña, afirmou que a diferença entre os dois primeiros, segundo a boca de urna da coalizão, era menor do que a registrada na primária obrigatória de 9 agosto. Scioli obteve então 38,6% dos votos e o grupo de Macri chegou a 30%. Para ganhar em primeiro turno, Scioli deveria chegar a 40% e abrir 10 pontos sobre o segundo.
O ex-kirchnerista Sergio Massa, da coalizão UNA, ficou em terceiro. “Sabemos qual nosso papel e qual nossa responsabilidade em relação ao futuro da Argentina. Vamos provar que é possível fazer uma nova política. Vamos no caminho de construir uma mudança positiva”, disse em discurso, feito depois de Scioli e antes de Macri.
Massa não se posicionou, mas ficou muito mais próximo de Macri do que do governista. Ele rompeu com o governo em 2013 e formou uma frente que ganhou a eleição parlamentar daquele ano, barrando o projeto de Cristina para um terceiro mandato.
Fonte: O Estado de S.Paulo