As qualidades profissionais e pessoais do economista fizeram o então diretor-técnico verdadeira autoridade e fonte confiável para a imprensa. Por essa notoriedade, foi chamado por Tancredo Neves a atuar na Comissão de Assuntos Constitucionais, na Constituinte, em área que não era sua especialidade. Ele conta: “Eu podia ir como pessoa, mas era dos quadros do Dieese. A diretoria se reuniu e me autorizou a participar”. Ele também atuou em outras comissões. “Fui chamado a opinar e compareci”, lembra.
Na quinta (3/12), a Agência Sindical ouviu, longamente, o paciente professor Barelli, que exaltou a seriedade técnica do Dieese e os dirigentes sindicais que, “mesmo nas épocas de crises – e as crises também afetam o Dieese – não deixaram de contribuir e garantir nosso funcionamento”.
Walter Barelli também aponta a autonomia da entidade frente a governos. A contratação de estudos, por governos de diferentes orientações, não interfere. “A autonomia é básica”, diz, acrescentando que o corpo técnico se restringe à política sindical. “A outra política quem faz é o dirigente sindical”, comenta.
Cesta básica
Por ser um órgão de estatística (é o primeiro “e” da sigla), o Dieese lida com números e séries. “A credibilidade de uma estatística depende da série, ou seja, se afirma com o tempo. É o que acontece com as pesquisas do Dieese”. Barelli conta que a pesquisa do “salário mínimo” do Dieese se apoia em estudo de Josué de Castro (autor de ‘Geografia da Fome’ e outros livros), feito ainda em 1938. “Feitas as adaptações de tempo, que ocorrem, a fórmula continua atual e ninguém contesta”, diz. Já o ICV (Índice do Custo de Vida) é mais recente, de 1958. “O Albertino Rodrigues, que foi um dos grandes dirigentes do Dieese, fez o primeiro levantamento naquele ano”, diz Barelli.
Greves
Segundo Barelli, “durante muito tempo o grande assessor sindical era o advogado e muitos advogados foram de fato inovadores”. Mas o economista, ele pondera, conhece o desempenho da empresa, lê balanço e municia o dirigente com os dados. Foi o domínio dos números e índices que deu munição para grandes mobilizações sindicais no final dos anos 70. De acordo com o ex-diretor técnico, “a posse do índice do Dieese passou a ser uma espécie de número mágico nas assembleias e também na mesa de negociação com o patronato”.
O arrocho imposto pela ditadura começou a impor perdas mais pesadas a partir de 1973. Mas o dimensionamento das perdas só veio em 1975, conta Walter Barelli, em razão das apurações feitas pelo Dieese – “nossos números passaram, então, a ser incontestáveis”. Ele conta que o próprio deputado-banqueiro Herbert Levy fez uma confissão desacorçoada na Câmara: “Olha, nós sempre defendemos os números passados pelo governo e agora vem esse tal de Dieese e mostra o contrário”.
Fonte: Agência Sindical