A campanha de imunização contra a gripe mal começou no interior paulista e o medo da H1N1 fez com que os lotes da vacina se esgotassem em várias regiões. Para muitos, a correria do Dia D foi em vão: idosos, crianças e gestantes foram mandados de volta para casa sem receber imunização. O anúncio de novas mortes pela doença contribuiu para aumentar as filas nos postos. A expectativa é de que, a partir desta segunda, 2, as unidades de saúde sejam reabastecidas.
Em Limeira, as 20 mil doses acabaram no início da tarde de sábado e ainda faltam 36 mil pessoas para receber a vacina. A campanha deve ser retomada na quarta-feira. Na manhã de sábado, enquanto as filas se formavam nos postos, a Vigilância Epidemiológica confirmava a primeira morte pelo H1N1 na cidade. A vítima, um homem de 56 anos, tinha problemas cardíacos e estava internada na Santa Casa.
Em Ibaté, na região de São Carlos, a confirmação da primeira morte por H1N1 também causou corrida aos postos e faltou vacina. A moradora de 51 anos estava internada na Santa Casa da cidade. Na região, além de Ibaté, as vacinas também foram insuficientes em São Carlos, Matão e Conchal.
A prefeitura de Piracicaba conseguiu um reforço extra de mil doses. Mesmo assim as vacinas acabaram em menos de oito horas. A cidade deve receber mais 32 mil doses nesta segunda, mas a imunização está suspensa até quarta-feira, tempo necessário para a distribuição do item.
Quem foi aos postos de vacinação de Botucatu após o meio-dia encontrou as portas fechadas. A cidade recebeu apenas um terço da quantia esperada de vacinas. As 32 mil doses acabaram uma hora antes do previsto em Bauru – a cidade pretende imunizar 80 mil pessoas. Marília também encerrou os serviços mais cedo: das 53 mil doses necessárias, chegaram 17,9 mil. Faltaram doses da vacina também no oeste paulista, na Baixada Santista e no Vale do Ribeira.
Houve filas nos postos de Campinas, mas a imunização foi suficiente. A campanha nesta fase é para idosos, crianças e gestantes. Os demais grupos de risco serão vacinados a partir do próximo dia 9. A cidade havia recebido um estoque de 270 mil doses e, até domingo, não tinha sido divulgado o total de pessoas já vacinadas.
Os sintomas gerais das gripes são febre, dor de garganta, cabeça e no corpo, coriza, mal estar e tosse seca, com início súbito. A gripe H1N1 apresenta sintomas semelhantes aos outros tipos de gripe, mas com mais chance de complicações, como pneumonia, sinusite, otite ou piora de condições pré-existentes, como doenças cardíaca ou pulmonar. Geralmente, os sintomas duram de três a sete dias, podendo a tosse e a dor no corpo persistirem por mais tempo.
Todos os pacientes que apresentem quadro de gripe e façam parte do grupo de risco - gestantes, puérperas, portadores de doenças crônicas, obesidade, síndrome de Down, doenças neurológicas e do desenvolvimento, crianças menores de 5 anos e idosos - devem procurar atendimento precocemente, preferencialmente nas primeiras 48 horas após o início dos sintomas. Para os demais pacientes, as unidades de saúde devem ser procuradas imediatamente caso apareçam sintomas como falta de ar, cansaço, piora de doença crônica, persistência ou aumento da febre por mais de três dias.
Inicialmente, o tratamento é realizado com medicamentos que aliviem alguns sintomas, repouso e líquidos. Para os pacientes com sinais de agravamento e com condições de risco para complicações, é indicada a utilização de antivirais, em especial oseltamivir, conhecido comercialmente como Tamiflu.
Os medicamentos, distribuídos pelo Ministério da Saúde, devem ser prescritos pelo médico. Cada município tem sua rede de unidades de saúde que atendem os pacientes. Para os pacientes com agravamento, o atendimento e o tratamento devem ser realizados nos hospitais.
De acordo com a infectologista Ana Freitas Ribeiro, um estudo realizado em 2009 no Estado de mostrou benefício na redução de óbitos por H1N1, com o tratamento antiviral iniciado até 72 horas após o início dos sintomas. “Para todos os pacientes com sinais de agravamento, o tratamento com antiviral deve ser iniciado independente do tempo entre o início dos sintomas e o atendimento.”
O deslocamento de viajantes para regiões onde a circulação de influenza é alta durante o inverno, principalmente países do Hemisfério Norte, como Estados Unidos e Canadá, é apontado como razão para o H1N1 ter chegado com força durante o verão brasileiro. Fenômeno parecido foi registrado em 2013.
A vacina disponível no serviço público deve ser tomada pelos grupos de maior risco. A campanha de vacinação de influenza anual é realizada nas unidades básicas de saúde e outros serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). As vacinas também ficam disponíveis em clínicas particulares. Por causa do aumento da procura neste início de ano, pessoas têm relatado falta do imunizante e elevação do preço.
Crianças de 6 meses a 5 anos, gestantes, puérperas, trabalhador de saúde, povos indígenas, indivíduos com 60 anos ou mais de idade, adolescentes e jovens de 12 a 21 anos sob medidas socioeducativas, população privada de liberdade, funcionários do sistema prisional, pessoas portadoras de doenças crônicas não transmissíveis. A vacinação em pacientes com doenças crônicas necessita de prescrição médica, especificando o motivo da indicação da vacina.
A vacina contém três tipos de influenza, A (H1N1), A (H3N2) e B. Anualmente, a vacina é renovada, considerando as recomendações da Organização Mundial da Saúde, a partir de informações sobre modificações do vírus. Em estudo realizado pela médica Ana Ribeiro foi comprovada a redução de 74% nas internações na unidade de terapia intensiva associadas à gripe em crianças, durante o período de maior transmissão. Em adultos, a redução foi de 71%.
A transmissão ocorre pela via respiratória, por contato próximo com doentes de gripe, durante a fala, espirro e tosse. Há possibilidade também da transmissão ocorrer pelo contato da mão na boca e olhos, após a exposição à superfície contendo o vírus. O vírus pode começar a ser transmitido até um dia antes do início dos sintomas. O período de transmissão dura sete dias em adultos e até 14 dias em crianças.
A vacinação é a principal medida de prevenção. “É importante que os doentes fiquem em casa, evitem deslocamentos”, disse a infectologista Ana Freitas Ribeiro. Os pacientes com gripe devem cobrir nariz e boca ao tossir e espirrar. Outros cuidados são: lavar cuidadosamente a mão com água e sabão ou com álcool em gel; e evitar tocar olhos, nariz e boca.
Comunicado
A Secretaria Estadual da Saúde informou ter comunicado o Ministério da Saúde que a quantidade de vacinas enviadas para São Paulo seria insuficiente para atender a toda a demanda. Uma nova remessa foi recebida na tarde de sexta-feira e deve ser repassada aos municípios a partir de hoje.
Segundo a pasta, São Paulo recebeu 9,9 milhões de doses, mas o total necessário para imunizar o público-alvo é de 12,7 milhões. O ministério informou que vai completar o repasse previsto até o dia 13.
A campanha de vacinação prossegue até o dia 20. Balanço preliminar divulgado pela Secretaria Estadual da Saúde no início da noite de sábado indicou que 5.470.755 de pessoas foram vacinadas.
A data foi chamada de Dia D por ter marcado o início oficial da campanha de vacinação. Na capital e Grande São Paulo, entretanto, a vacinação deste ano foi antecipada e começou no dia 4 do mês passado.
No Estado, foram notificados, até o dia 19 do mês passado, 1.092 casos e 128 óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) atribuídos ao vírus influenza. Do total, 883 casos e 119 óbitos foram relacionados ao H1N1. Ao longo do ano passado, foram 342 casos de SRAG em todo o Estado de São Paulo, com 65 óbitos.
Fonte: O Estado de S.Paulo