Publicado em: 25/10/2016 |
A surpresa com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, a menor em 17 anos para o período, ainda reverbera nas projeções para a inflação deste ano, segundo economistas. Ontem, o relatório Focus, do Banco Central, mostrou que a mediana das estimativas para 2016, de cerca de uma centena de analistas, caiu de 7,01% para 6,89%. É a primeira vez desde abril que a expectativa para este ano fica abaixo de 7%. A projeção para 2017 teve um ligeiro ajuste para baixo, de 5,04% para 5%.
As projeções dos analistas Top 5 - os que mais acertam as previsões - acompanharam o mercado em geral. O mediana do ranking de médio prazo para o IPCA de 2016 caiu de 7,02% para 6,89% e, para 2017, de 5,13% para 5,03%.
A despeito de o preço da gasolina ter aumentado para o consumidor na semana passada, após a redução de 3,2% nas refinarias, este também é um elemento que pode ter amenizado as perspectivas para a inflação de 2016. Em setembro, o IPCA surpreendeu ao marcar alta de 0,08%, a menor taxa para o mês desde 1998. "Os analistas ainda estão reagindo ao número", afirmou o economista Paulo Picchetti, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Brasil, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para a consultoria INVX Global Partners, a queda das expectativas de inflação incorpora uma dinâmica mais favorável dos preços livres nas última semanas e o recuo da tarifa de energia em algumas praças. A INVX considerou que a mediana do IPCA de outubro no Focus, de 0,3% ainda está elevada, e deve recuar para algo mais próximo de 0,25% até o fim do mês.
A despeito da queda das estimativas do IPCA no Focus, Picchetti, da FGV, ressalta que as taxas estão ainda acima do teto da meta para 2016 e distante do 4,5% a que o BC pretende chegar em 2017. Ele considerou que o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada mostrou uma autoridade intransigente com a inflação diante de incertezas ainda não superadas, como a aprovação definitiva da PEC 241, que impõe limite ao gasto público, e da resistência dos preços.
A INVX também considera que o avanço na aprovação da PEC 241, em segundo turno na Câmara e depois no Senado, como ponto fundamental para dirimir incertezas, além da retomada da desinflação dos componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária (serviços, basicamente), como o apontado pelo Copom no comunicado da decisão que cortou a Selic em 0,25 ponto, na semana passada.
Em linha com as previsões do Focus, a consultoria vê espaço para queda de 0,50 ponto na Selic na reunião do Copom em novembro, para 13,50%, cumpridas as duas condições. O mercado geral e o Top 5 não alteraram as apostas para a Selic. Ambos os grupos esperam que o juro termine o ano em 13,5%. Em 2017, enquanto o mercado espera queda até 11%, o Top 5 vê 11,25%.
Quanto à piora da expectativa para o PIB de 2016 (-3,19% para -3,22%) e de 2017 (1,3% para 1,23%) no Focus, a INVX acredita que o recuo não é uma tendência, mas um ajuste aos indicadores ruins de indústria e comércio divulgados recentemente. "Não consideramos que a redução da expectativa para o crescimento do PIB de 2017, de 1,3% para 1,23% seja sustentável nas próximas pesquisas", diz o relatório.
Fonte: Valor Econômico