Copom mantém Selic a 6,5% e evita sinalizar próximos passos :: 02/08/2018 (09:41:31)
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica de juros inalterada em 6,5% ao ano e, em seu comunicado, não deu indicações mais claras sobre seus próximos passos...

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica de juros inalterada em 6,5% ao ano e, em seu comunicado, não deu indicações mais claras sobre seus próximos passos. A decisão, que era amplamente esperada, foi unânime.

No comunicado, o Copom afirmou que "os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação".

Foi a terceira vez seguida que o Copom manteve a Selic. Em maio, o comitê contrariou as expectativas dos analistas, que esperavam nova redução da taxa básica, e surpreendeu ao manter a Selic no atual patamar, em virtude dos efeitos inflacionários da alta do dólar.

Naquela oportunidade, porém, o Copom chegou a indicar que manteria os juros em 6,5% ao ano nas reuniões seguintes. Essa indicação explícita dos passos subsequentes, porém, foi eliminada na reunião seguinte, de junho. Segundo o colegiado, o cenário inflacionário ficou mais incerto devido à pressão inflacionária causada pela greve dos caminhoneiros e por novas rodadas de alta da cotação da moeda americana.

"O Comitê considera que os efeitos dos choques recentes sobre a inflação estão se revelando temporários, mas é importante acompanhar ao longo do tempo o cenário básico e seus riscos e avaliar o possível impacto mais perene de choques sobre a inflação", diz o comunicado.

Os juros básicos, na visão do BC, estão no terreno estimulativo, com o objetivo de acelerar o crescimento da economia - que opera com alto grau de ociosidade - e de trazer a inflação para as metas anuais definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), após caírem abaixo do piso de 3% em 2017.

Segundo as projeções do BC apresentadas no comunicado, a inflação, que ficou em 4,39% no período de 12 meses até junho, deverá desacelerar para 4,2% no fechamento de 2018 e 3,8% em 2019, abaixo das metas anuais, respectivamente de 4,5% e 4,25%. Esse cenário assume como premissa as projeções feitas pelos analistas econômicos do mercado de manutenção dos juros em 6,5% ao ano até maio de 2019 e alta gradual a partir de então, a 8% ao ano, além da cotação do dólar em R$ 3,70. Num segundo cenário, que prevê os juros constantes em 6,5% ao ano e a taxa de câmbio na média de R$ 3,75 vigente nos últimos dias, o BC projeta inflação de 4,2% em 2018 e de 4,1% em 2019, basicamente na meta.

No comunicado, o Copom dá alguns sinais de que a inflação está evoluindo conforme traçado no cenário básico. "A inflação do mês de junho refletiu os efeitos altistas significativos da paralisação no setor de transporte de cargas e de outros ajustes de preços relativos", diz o comunicado, provavelmente referindo-se à inflação de 1,26% registrada em junho pelo IPCA e também à alta do dólar, cuja cotação chegou a superar os R$ 3,90. "Dados recentes corroboram a visão de que esses efeitos devem ser temporários."

Apesar da leitura um pouco mais tranquilizadora, o Copom continua a apontar riscos tantos positivos quanto negativos que podem fazer a inflação ficar tanto maior do que o projetado quanto menor. Do lado positivo, citou que "a possível propagação, por mecanismos inerciais, do nível baixo de inflação passada e o nível de ociosidade ainda elevado podem produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado". Do lado negativo, citou dois riscos. Primeiro, que "uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária". Segundo, que "esse risco se intensifica no caso de deterioração do cenário externo para economias emergentes".

Sobre a atividade econômica, destacou que os indicadores recentes refletem os efeitos da paralisação no setor de transporte de cargas, mas há evidências de recuperação subsequente. Segundo o Copom, o cenário externo apresentou certa acomodação, "mas segue mais desafiador".

Para o chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV/IBRE e ex-diretor do BC, José Julio Senna, o BC poderia ter sido mais contundente na avaliação sobre o impacto do cenário internacional para as perspectivas de política monetária. "O BC trocou pouca coisa na referência sobre o ambiente externo, mas poderia ter reconhecido a grande ajuda que o cenário internacional deu" para a melhora do quadro geral.

O teor do comunicado do Copom reforça entre economistas a visão de que a Selic permanecerá inalterada pelos próximos meses.

De acordo com Senna, a tendência é de a taxa básica continuar estável em 6,5% "até o fim do ano, que é até onde a vista da gente alcança". Para o economista, "depois disso ninguém sabe quem vai ganhar as eleições e o que o novo governo vai fazer".

"Entraremos num período de calmaria, à espera da eleição. Não cabe ao BC fazer nada mais neste momento", diz o economista-chefe do Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall. Para ele, o destaque do texto foi a inclusão do tema ociosidade no balanço de riscos, o que faz sentido considerando o mercado de trabalho ainda fraco. Outra informação importante foi a confirmação pelo BC de que o choque da greve dos caminhoneiros foi passageiro.

Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, o BC não está com o dedo no gatilho para subir juros, mas está atento ao cenário econômico e político. Para ela, o desenvolvimento do processo eleitoral pode afetar a condução da política monetária já nos próximos meses.

Por ora, o BC parece enxergar um balanço de riscos "simétrico", o que aponta para manutenção do juro, afirma o economista-chefe do UBS Brasil, Tony Volpon. "O BC indica que, se nada acontecer, a inflação deve convergir para a meta no longo prazo e, portanto, não é preciso fazer muita coisa", explica.

Fonte: Valor Econômico