A continuidade da devolução do choque de oferta causado pela greve dos caminhoneiros e a queda dos combustíveis seguiram reduzindo a inflação na primeira quinzena de agosto, avaliam economistas. Segundo a estimativa média de 35 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) subiu 0,10% neste mês, após alta de 0,64% em julho.
Se confirmada, essa terá sido a menor taxa para o mês de agosto desde 2010, quando houve recuo de 0,05%.
As projeções para a prévia do indicador oficial de inflação, que será divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vão de aumento de 0,01% até 0,22%. No acumulado em 12 meses, a inflação medida pelo IPCA-15 deve ter ficado em 4,27% até agosto, abaixo dos 4,53% registrados em julho.
Com peso de cerca de 25% no índice, o grupo alimentação e bebidas deve ter mostrado redução de 0,18% no IPCA-15 deste mês, calcula Breno Martins, economista da Mongeral Aegon. Na medição anterior, o grupo subiu 0,61%. A maior queda, de 9%, foi registrada pelos alimentos in natura, estima Martins, enquanto a parte de proteínas animais, que inclui aves, carnes bovinas e ovos, diminuiu cerca de 1%. Mesmo assim, pondera, a normalização dos preços no setor após os efeitos do bloqueio nas estradas ocorreu em magnitude mais fraca que a prevista.
"A parte de leite e derivados está em patamar negativo, mas não tão forte", diz o economista. Por isso, a gestora de recursos não espera mais deflação do IPCA em agosto. Para o indicador fechado, a expectativa preliminar é de aumento de 0,03%, afirma Martins, enquanto o IPCA-15 deve ter avançado 0,08% no mês atual.
Além dos alimentos, a parte de transportes também entrou no terreno negativo neste mês, com retração de 0,63%, acrescenta o analista da Mongeral, após aumento de 0,79% em julho.
Em seus cálculos, gasolina e etanol recuaram 0,5% e 5,7% na leitura atual, respectivamente. Já os bilhetes aéreos tiveram queda maior, de 18,5%, explicada pela sazonalidade do período, observa, uma vez que esses itens costumam subir bastante nas férias de julho e, no mês seguinte, ficam mais baratos.
O avanço de 0,07% esperado para o IPCA-15 de agosto é resultado principalmente do fim do choque altista sobre os preços de alimentos e combustíveis, concorda a equipe econômica do Santander em relatório. Na visão dos economistas do banco, o dado mais baixo deve provocar redução do consenso de mercado para a inflação de 2018, atualmente em 4,15%, segundo o boletim Focus, do Banco Central.
"Além disso, acreditamos que o recuo inflacionário confirmará o diagnóstico de baixo repasse, após a paralisação, da pressão de custos sobre os preços dos bens finais", afirmam os analistas do Santander. Ainda segundo o banco, o IPCA-15 deste mês também deve reforçar o cenário de manutenção da taxa Selic no patamar atual, de 6,5% ao ano.
Com a mesma projeção para a prévia da inflação oficial deste mês, o Haitong aponta que, se a estimativa se concretizar, o IPCA-15 acumulado em 12 meses terá arrefecido para 4,24% até agosto. "Ou seja, após o pico registrado em junho e julho, a dinâmica inflacionária deve ter retornado à trajetória favorável que prevalecia anteriormente", comentam os economistas Jankiel Santos e Flávio Serrano.
Os núcleos de inflação - que diminuem ou excluem o impacto de itens voláteis sobre o IPCA e o IPCA-15 - são evidência adicional de que o comportamento dos preços segue benigno, observa o departamento econômico do banco chinês. Nos cálculos de Santos e Serrano, a média dos três núcleos mais usados subiu 0,32% em agosto, o equivalente a 3,52% em 12 meses.
Breno Martins, da Mongeral Aegon, destaca, ainda, a trajetória tranquila da inflação de serviços. Em agosto, ele estima que a inflação subjacente do setor, que exclui preços como educação e turismo, avançou 3,1% em 12 meses. "É um número baixo", disse.