Os investidores do mercado de câmbio deram mais um passo para reduzir o prêmio de risco embutido no preço do dólar. Ontem, a moeda americana estendeu a trajetória de baixa e recuou pela oitava vez dentre as 11 sessões de outubro. Especialistas apontam, entretanto, que o movimento - capitaneado pela confiança na cena política - já começa a dar sinais de exaustão de curto prazo.
O dólar recuou até R$ 3,6919 na mínima do dia, mas o nível não se sustentou até o fim do pregão. Aos poucos, a moeda reverteu a queda e fechou em baixa de apenas 0,30%, a R$ 3,7201, afetado por uma realização de lucros ao longo da sessão.
De acordo com profissionais de mercado, as apostas numa queda adicional da moeda vão se tornando menos atrativas. Isso porque o nível do dólar já reflete, quase integralmente, o cenário de eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para a Presidência da República. Sendo assim, um recuo adicional da moeda exigiria ou um sinal mais claro sobre a agenda de reformas ou uma grande melhora do ambiente externo.
Para o estrategista-chefe no Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, a queda do dólar para além de R$ 3,70 pode não se mostrar "sustentável" no atual momento. "A razão disso é que o Brasil ainda tem muitos desafios pela frente", diz o especialista, ao citar a necessidade de ajuste fiscal. Mesmo que o partido de Bolsonaro tenha se tornado o segundo maior da Câmara, ele ainda vai precisar de muita negociação para avançar nas reformas que demandam maioria qualificada no Congresso. Esse é o caso da reforma da Previdência, que deve se tornar o principal catalisador da instabilidade no câmbio em 2019. "É cedo para apostar que ele terá condições para aprovar a reforma", acrescenta.
Num sinal da pausa na aposta de queda do dólar, foi interrompida na segunda-feira uma sequência de nove sessões consecutivas de venda de dólares no mercado de derivativos. Os investidores institucionais brasileiros se desfizeram de US$ 10,04 bilhões no acumulado do mês até o dia 15, de acordo com operações com dólar futuro e cupom cambial registrados na B3. Agora, esses investidores tem posição vendida em dólar (que ganha na queda da moeda) de mais de US$ 22 bilhões - a mais acentuadas desde abril de 2016.
Para o chefe da mesa institucional de futuros da Genial Investimentos, Roberto Motta, o que acontece agora é uma "rotação" da busca por ativos de risco. Num primeiro momento após o primeiro turno das eleições, houve uma busca mais intensa pela moeda brasileira e as ações na bolsa. No entanto, a tendência esbarrou na onda de vendas de ações em Wall Street na semana passada e, agora, os investidores avaliam os segmentos que ainda têm prêmio.
"O grande destaque tem sido a renda fixa", diz o especialista. Para ele, a queda das taxas agora serve para tira o atraso em relação aos demais segmentos. Para ter ideia do recuo dos juros futuros, a taxa do DI para janeiro de 2025 saiu de 11,75% no fim de setembro para 10,15% no fechamento ontem. "Entre ficar vendido em dólar em R$ 3,70 e olhar outros ativos, é melhor fazer a rotação e ir para renda fixa", resume o especialista.
No entanto, até esse movimento pode estar se aproximando do fim. "Quase todo o prêmio com a incerteza eleitoral saiu do câmbio e a depreciação do real no acumulado do ano reflete basicamente o movimento internacional das moedas emergentes. Agora, os juros passam por processo semelhante", afirma Maurício Oreng, economista-chefe do Rabobank Brasil. "Talvez tenha um pequeno espaço para correção quando o cenário [das eleições] for dado como certo, mas o que vai determinar nova melhora adicional serão as efetivas ações do governo a partir do ano que vem", completa.
Fonte: Valor Econômico