O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) voltou a surpreender positivamente em agosto, após resultado acima do esperado em julho, e recuperou o otimismo dos economistas. Índice que tenta ser uma aproximação do comportamento mensal do PIB, o IBC-Br registrou alta de 0,47% em agosto, feito o ajuste sazonal, após alta de 0,65% em julho - dado revisado de 0,57%.
O desempenho veio acima da expectativa média dos analistas, de uma alta de 0,28%. Na comparação anual, o indicador avançou 2,5%. Em 12 meses até agosto, o crescimento é de 1,5%.
Os analistas agora descartam as projeções mais pessimistas para o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre e do ano de 2018 e esperam a continuidade do bom momento ao longo do quarto trimestre.
O fim da incerteza eleitoral pode destravar decisões de consumo e investimento já nos últimos meses deste ano, avaliam, contribuindo para a economia ganhar algum fôlego em 2019. Mas a continuidade deste cenário relativamente positivo dependerá da performance política do novo presidente - notadamente da sua capacidade de aprovar as reformas necessárias.
No mês, comércio e serviços surpreenderam positivamente, compensando desempenho pior do que o esperado da indústria.
"O terceiro trimestre tinha a perspectiva de que pudesse ser mais complicado, por causa do pós-greve [dos caminhoneiros em maio] e do cenário eleitoral muito conturbado, mas o que estamos vendo é um consumidor e um investidor resilientes, então a economia está conseguindo entregar o esperado no início do ano: uma recuperação gradativa", avalia Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Com o resultado do IBC-Br de agosto, o Bradesco revisou sua estimativa para o PIB do terceiro trimestre, de 0,3% para 0,5% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. Já o Banco MUFG Brasil avaliou que os dados de julho e agosto trazem viés de alta para sua projeção de 0,7%. Santander e MB Associados reafirmaram suas previsões de 0,6% e 0,8%, respectivamente, enquanto o UBS espera uma alta de 1% para o PIB de julho a setembro.
"Dado o ambiente, era para se esperar que a economia estivesse até pior, mas os indicadores estão mostrando uma resiliência grande", avalia Luciano Sobral, economista do Santander. "Devemos acabar 2018 com 1,5% de crescimento, bem menos do que imaginávamos no começo do ano [3%], mas longe de ameaçar o país de voltar a uma recessão."
Como a mediana do mercado para o PIB de 2018 está atualmente em 1,34%, pelo boletim Focus mais recente, a tendência é que os analistas mais pessimistas revisem para cima suas projeções, acreditam Sobral e Vale.
Para o quarto trimestre, os economistas Carlos Pedroso e Mauricio Nakahodo, do MUFG, projetam uma alta de 1% do PIB, influenciado por alguma recuperação da confiança dos consumidores e empresários, passadas as eleições presidenciais, e também pelas vendas de fim de ano. Para 2018, a expectativa do banco é de um crescimento de 1,3%.
"Ainda não vemos espaço para um maior crescimento econômico, pelo menos no curto prazo, por causa dos limites estabelecidos pelo alto nível de desemprego e endividamento, que retém um pouco as decisões de consumo", ponderam. "E alguns empresários podem preferir esperar para ver as primeiras medidas efetivas do novo governo a partir do próximo ano, para basear suas decisões de investimento."
Thiago Xavier, da Tendências Consultoria, avalia que a demora em sair da crise é a principal característica do momento atual e que a velocidade da retomada vai depender essencialmente dos sinais dados pelo próximo governo, principalmente na área fiscal.
Vale, da MB Associados, tem avaliação semelhante. "Esse certo otimismo que estamos vendo hoje permanece por alguns meses, provavelmente ao longo do início de 2019, mas está atrelado à performance política do [provável governo de Jair] Bolsonaro. Se ele não entregar, voltamos para a crise", afirma o economista.
Fonte: Valor Econômico