A melhora das condições financeiras deu alívio à política monetária e à atividade, que teve desempenho mais forte no terceiro trimestre de acordo com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). O ambiente mais favorável, no entanto, não vale para os investimentos, que devem mostrar um salto no período ante o segundo trimestre por razões puramente contábeis.
Divulgada com exclusividade ao Valor, a edição de outubro do Boletim Macro traz revisão expressiva nas projeções do Ibre para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e pesquisa). De julho a setembro, a entidade estima que FBCF subiu 6,6% em relação aos três meses anteriores, feitos os ajustes sazonais - 4,5 pontos percentuais acima da previsão do documento de setembro.,Para a média de 2018, a perspectiva para a alta do investimento saiu de 3,4% para 6,8%. A mudança, no entanto, não acarretará em maior crescimento da economia, que deve ser de 1,5% no ano, mesma estimativa do mês passado. O número para o terceiro trimestre também não foi alterado (alta de 0,9%).
O avanço mais significativo da FBCF não tem reflexo positivo no crescimento porque é resultado de importações de plataformas de petróleo que foram registradas agora na balança comercial, mas que, na verdade, já estavam no país, explica a coordenadora técnica do boletim, Silvia Matos.
Devido a alterações no Repetro, regime que dá tratamento tributário especial para bens destinados ao setor de óleo e gás, as compras externas de bens de capital tiveram forte alta no terceiro trimestre. Por isso, a absorção interna de máquinas e equipamentos aumentou mais de 40% no período, na comparação com o mesmo trimestre de 2017.
"Vale ressaltar que ainda há dúvidas sobre a forma como o IBGE vai tratar o impacto do novo Repetro sobre o investimento. Além disso, essa alteração não modifica o PIB pelo lado da oferta e também não deve gerar grandes mudanças no resultado pelo lado da demanda, pois o investimento maior é compensado pelo aumento nas importações", explicam Silvia e a economista Luana Miranda, na seção de atividade do boletim.
Se, de um lado, a expansão da FBCF não reflete um quadro mais promissor para os investimentos produtivos, do outro, o avanço de 0,9% previsto para o PIB no terceiro trimestre mostra maior resiliência da economia, avalia Silvia. Ainda que parte do aumento esperado resulte da base de comparação fraca do segundo trimestre, a conjuntura também melhorou nos últimos três meses, diz.
Após a surpresa positiva com os dados de agosto, a economista observa que os índices já disponíveis para setembro também apontam bom desempenho. No mês passado, pelos cálculos do Ibre, todos os principais indicadores tiveram alta mensal, tais como produção industrial, volume de vendas no varejo, geração de empregos formais e o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br).
Segundo os pesquisadores do Ibre, houve acomodação do cenário externo desde setembro, com redução do risco para países emergentes. Além disso, o mercado tem avaliado o Brasil de forma mais positiva, o que levou o real a se apreciar ante o dólar. O alívio nas condições financeiras sustentou a aceleração da atividade e também contribuiu com a inflação, acrescenta o instituto.
"Com a reversão do câmbio, haverá um forte recuo nos preços dos combustíveis. Houve, também, melhora nas previsões dos preços de energia, devido a um maior volume de chuvas", afirmam Silvia e o economista Armando Castelar. Assim, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar 2018 com alta próxima da meta, de 4,5%, mesmo nível projetado para o próximo ano.
De acordo com a entidade, o cenário mais benigno para os preços, num contexto de expectativas inflacionárias bem ancoradas, deve permitir que o Banco Central mantenha a taxa básica de juros em 6,5% ao ano por mais tempo. O chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre, José Júlio Senna, reforça essa avaliação na seção de política monetária do documento.
Ex-diretor do BC, Senna observa que, desde o início de setembro, foi revertida a trajetória de alta dos juros futuros que motivou muitos analistas a defenderem o início de um ciclo de aperto monetário. "A taxa média para 2022 veio de 14,1% para 11,1%, a de 2021 de 13,5% para 10,7 %, e assim por diante", nota o pesquisador. Ele relaciona o recuo ao cenário eleitoral, devido à "crescente probabilidade de vitória de um candidato que os participantes de mercado enxergam com bons olhos, pelo menos na comparação com seu principal (agora único) oponente".
Com a dissipação das incertezas associadas à eleição presidencial, afirma Senna, fundamentos como a elevada capacidade ociosa na economia, o baixo nível dos núcleos de inflação e dos serviços e as expectativas inflacionárias comportadas ficam mais " constatáveis". Assim, para ele, é possível prever que a taxa Selic vai permanecer estável ainda "por um bom tempo, facilitando a retomada da atividade econômica no próximo ano".
Fonte: Valor Econômico