O dólar intensificou o ritmo de alta no fim do pregão desta quarta-feira e fechou bem perto da máxima do dia, em meio à deterioração do ambiente de riscos no exterior. A moeda americana terminou a sessão em alta de 1,24%, aos R$ 3,7422, enquanto os investidores globais aumentaram a busca por proteção diante de sinais de enfraquecimento da economia global e surpresas com riscos geopolíticos.
Para o sócio e gestor da LAIC, Vitor Carvalho, a piora do ambiente externo - retratada pelo tombo das ações em Wall Street - chacoalhou os ativos brasileiros num momento que o prêmio de risco local já está reduzido. “O mercado fica um pouco mais exposto”, diz. “À medida que o estrangeiro vai se tornando mais vendedor [de ativos de risco], ele tende a embolsar lucros e o Brasil é um desses casos”, diz.
Em outubro até o último dia 22, os investidores não residentes retiraram R$ 1,44 bilhão da renda variável, enquanto tem operado com compra de dólares no mercado de derivativos cambiais. De acordo com dados da B3, foram adquiridos US$ 8,8 bilhões em futuros de dólar e cupom cambial no mês até ontem, revertendo boa parte das vendas, de US$ 8,9 bilhões, em setembro.
Hoje, não faltaram motivos para a azedar o clima nos mercados globais. Em meio a preocupações com o crescimento da economia global, os investidores também foram surpreendidos por relatos de supostos atentados, com pacotes-bomba, contra políticos americanos. Num indício da aversão ao risco, os principais indicadores de volatilidade dispararam no fim do dia. O índice Vix, das ações americanas, subia 20% no fim da sessão, a 25 pontos, o maior nível desde fevereiro.
Domesticamente, a cena política não houve motivos fortes o suficiente para contrabalançar a pressão externa. Nesta reta final da eleição, a principal aposta do mercado para a Presidência - Jair Bolsonaro, do PSL - perdeu marginalmente o apoio do eleitorado e viu sua taxa de rejeição aumentar, de acordo com a pesquisa Ibope. Para especialistas, o favoritismo de Bolsonaro segue firme e a contagem regressiva da eleição gera confiança, mas os números de intenções de voto não agradaram.
Para o estrategista-chefe da Coinvalores, Paulo Nepomuceno, os preços dos ativos brasileiros já embutem o cenário de Bolsonaro na Presidência e agora os prêmios de risco estão “ficando pequenos”. Ainda assim, ele afirma que a reação pós-eleitoral, na segunda-feira, deve ser positiva, caso confirmada a expectativa. “Mas depois se ajusta. Acho que, talvez, o potencial para subir mais esteja na Bolsa”, acrescenta.
O cenário político deve oferecer suporte para o mercado brasileiro de câmbio, pelo menos, até o começo do ano que vem, na avaliação do economista-chefe da Guide Investimentos, Victor Candido. O dólar estaria operando hoje num nível mais elevado, mais próximo de R$ 4, se fosse movido apenas pela dinâmica externa. Para manter uma dinâmica positiva, caberá ao governo mostrar força na base política e no alinhamento com o Congresso, enquanto anuncia os nomes para compor a equipe econômica. “Por enquanto, o mercado está apostando que haverá governabilidade sob a administração Bolsonaro”, diz.
A volatilidade pode retornar, entretanto, quando os planos econômicos dos próximos quatro anos começarem a ser revelados, na avaliação dos especialistas do BBVA. Nas últimas semanas, o dólar teve uma queda “significativa” de cerca de R$ 4,15 para R$ 3,70 “em grande parte devido a percepção positiva do cenário pós-eleitoral”, escrevem os analistas em relatório, ao apontar que o movimento pode ter sido “excessivo”.
Para os analistas do BBVA, o próximo governo deve adotar medidas para reduzir a vulnerabilidade fiscal, mas “dificilmente” conseguirá aprovar uma reforma ambiciosa da Previdência. A fragmentação do Congresso, a polarização política e a pressão do mercado devem reduzir o espaço de manobra do próximo governo, dizem. “Será difícil aprovar uma reforma ambiciosa da Previdência (que é fundamental para garantir a sustentabilidade da dívida pública)”, afirmam. O cenário mais provável é o de que uma reforma “descafeinada” será implementada, assim como outras medidas para aumentar a receita e reduzir gastos.
Fonte: Valor Econômico