O diretor geral da Zara no Brasil, João Braga, depõe hoje na CPI que investiga o trabalho escravo instaurada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). A companhia, que pertence ao grupo espanhol Inditex – o maior de moda do mundo -, é a primeira a prestar esclarecimentos sobre o assunto na comissão.
Serão convocadas também a grife M.Officer e a confecção Uffizi, informou a assessoria de imprensa da CPI. Este mês, fiscais do Ministério do Trabalho (MTE) resgataram seis bolivianos em condições análogas à escravidão em uma oficina de costura em São Paulo. Segundo o MTE, a produção destinava-se à M.Officer, por meio da fornecedora Empório Uffizi. A M.Officer diz que seu contrato com fornecedores veda a subcontratação.
A Zara teve seu nome envolvido com trabalho escravo no país em 2011. Na época, oficinas subcontratadas pelas empresas Aha e Rodhes, fornecedoras que tinham a Zara entre seus clientes, foram flagradas com funcionários operando em condições degradantes. No caso da Aha, a Zara foi notificada e responsabilizada. A rede rompeu contrato com a fornecedora e assinou um termo de ajustamento de conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Os negócios entre Zara e Rodhes continuam. A Zara afirma que, quando teve ciência do problema, a Rodhes já havia regularizado a situação. E acrescenta que não foi notificada nesse caso.
Ontem, um dia antes do depoimento na CPI, a Zara convocou jornalistas para falar sobre suas iniciativas de responsabilidade social. Com vendas de R$ 962 milhões no Brasil em 2013 e 57 lojas, o grupo Inditex investiu R$ 20 milhões em projetos sociais, principalmente contra o trabalho degradante no setor têxtil no país desde 2003. Somente de 2012 para cá, foram R$ 14 milhões em ações como auditorias de fornecedores, melhoria das condições laborais e apoio à integração social dos imigrantes, disse Braga.
Cerca de 35% dos itens que a Zara vende no Brasil são feitos por 32 empresas locais, que empregam juntas 11 mil pessoas. Segundo Braga, mesmo com o fim da vigência do TAC, a rede manteve vários projetos de responsabilidade social, como o apoio aos imigrantes. “Não achamos justo que nosso nome esteja relacionado com trabalho escravo. Desde o problema que tivemos em 2011, temos tido uma conduta exemplar”, disse.
Ainda este ano, a Zara lançará uma etiqueta especial para roupas feitas no Brasil. Com um aplicativo de celular, o consumidor poderá rastrear dados sobre a confecção responsável pela peça e obter informações técnicas sobre ela.
Segundo a CPI, as investigações não se concentram em nenhuma empresa ou setor específicos, mas na exploração do trabalho escravo no Estado. A ideia é propor ações para ajudar a sanar o problema.
Fonte: Valor Econômico.