Comércio se desenvolve com qualificação da mão de obra :: 11/11/2014 (11:01:56)
Quando se observa a produtividade brasileira a partir dos segmentos econômicos, o cenário é conflitante.

Quando se observa a produtividade brasileira a partir dos segmentos econômicos, o cenário é conflitante. Enquanto atividades como a indústria declinam, setores que vêm puxando a economia, como o agronegócio e o comércio de bens e serviços, disparam. Para o economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, os indicadores têm acompanhado a performance recente, principalmente do varejo. “Nos últimos cinco anos, podemos dizer que houve um avanço médio de 5% ao ano, e os serviços cresceram 3,2%”, detalha. 

Entre as razões que justificam esse crescimento, o recente modelo de estímulo ao consumo é um dos fatores preponderantes, mas não exclusivo. Bentes esclarece que a qualificação da mão de obra tem sido crescente no segmento, o que sustenta os efeitos positivos. Já no contexto macroeconômico, o câmbio valorizado tem favorecido a importação de produtos comercializados aqui, suplantando, ainda mais, o desempenho do ramo. 

“Os comerciários ficaram mais produtivos, porque houve uma maior qualificação”, sustenta. Se considerados todos os graus de escolaridade, o profissional com nível superior completo é o que mais tem sido absorvido. Para o economista Luiz Augusto Faria, da Fundação de Economia e Estatística (FEE), o aperfeiçoamento é um dos indicadores que mais influenciaram nos ganhos de maneira geral. “Em 10 anos, nós passamos de 1 milhão de alunos do Ensino Técnico para 8 milhões. Na universidade, esse montante passou de 2 milhões para 7,5 milhões”, contabiliza. 

De acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio, de 2007 a 2013, o total de indivíduos que atuam no setor que têm menos preparo reduziu em 23,7% para os analfabetos, 22,8% entre os que têm até o 5º ano do Ensino Fundamental, 12,4%, para os que cursaram do 6º a 9º do Ensino Fundamental, e 7,1% entre os que têm o Ensino Fundamental completo. 

Já nos demais níveis, a trajetória é de evolução no mesmo período. A quantidade de trabalhadores com Ensino Médio incompleto subiu 16,7%. Já o percentual dos que completaram o Ensino Médio sofreu alta de 70%. Entre universitários que ainda não completaram a graduação, a elevação foi de 25,7%. Já os que completaram o Ensino Superior foram ampliados em 87,7%. Mesmo aqueles que têm pós-graduação, que respondem em menor número pela força de trabalho na atividade, sofreram variação surpreendente, com alta de 129,7% para os que têm mestrado e de 124,5% para os que têm doutorado, nos últimos seis anos. 

“Se formos destrinchar mais o ganho de salário entre esses grupos, aqueles mais qualificados tiveram um prêmio extra por conta dessa maior produtividade”, dimensiona Bentes. A média salarial em 2013 foi de R$ 1.490,00 no Brasil. A variação de acordo com o nível escolar é significativa. Para demonstrar a distinção entre subir um degrau na formação acadêmica, basta observar a diferença de salário entre um profissional com Ensino Superior incompleto, com vencimentos de R$ 2.153,29, e outro com Ensino Superior completo, com renda de R$ 4.289,01. 

O rendimento dos funcionários desse segmento também tem um componente extra: as comissões. “É um estímulo”, afirma o economista da CNC. E, novamente, aqueles que têm maior capacitação conseguem obter melhores resultados. Bentes ressalta que indivíduos com Ensino Médio completo respondem pela maior parte de pessoas que atuam no varejo. Do total, eles representam 61,9%, muito acima dos que têm Ensino Superior incompleto (3,1%) e dos que já concluíram a graduação universitária (4,7%). Ainda assim, a tendência é de que o segmento absorva cada vez mais os profissionais mais qualificados. 

Apesar do cenário positivo, o setor não vai fechar o ano da forma que esperava. “Este vai ser um ano ruim, devemos ter o menor desempenho desde 2003”, constata Bentes. “Não é crise, mas é uma situação menos confortável”, esclarece. Com a produtividade comprometida em um ano de desempenho reduzido, uma das variáveis na composição do indicador tem que ser alterada. Se não há crescimento, é o emprego que cai. “O emprego já está crescendo menos do que nos anos anteriores”, sinaliza Bentes. Num cenário de curto prazo, a tendência deve ser mantida, pelo menos até o primeiro semestre de 2015, prevê. 

Fonte: Clipping Market