A continuidade do desempenho positivo no comércio deve ter garantido novo crescimento da atividade em setembro, avaliam economistas, embora em ritmo bastante modesto, já que a indústria teve retração no mês. Segundo analistas, os dados já divulgados reforçam a perspectiva de pequena melhora do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, insuficiente para recuperar, porém, o tombo de 0,6% registrado de abril a junho.
Após alta de 0,27% em agosto, a média de 16 instituições financeiras e consultorias aponta que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) ficou praticamente estável em setembro, ao avançar 0,1% sobre o mês anterior, feitos os ajustes sazonais. As estimativas para o indicador da autoridade monetária que tenta antecipar o comportamento mensal do PIB vão de queda de 0,2% até expansão de 0,4%. O dado será divulgado hoje. No fechamento do trimestre, a média de projeções indica aumento de 0,5% do IBC-Br em relação aos três meses anteriores.
A trajetória do varejo, cujo volume de vendas cresceu 0,4% entre agosto e setembro no conceito restrito (que não inclui automóveis e material de construção), foi melhor que o previsto, diz Mariana Hauer, do banco ABC Brasil. Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada na sexta-feira pelo IBGE, a variação das vendas ampliadas no período também foi positiva, com alta de 0,5%. Por isso, mesmo com a retração de 0,2% da produção industrial na passagem mensal, Mariana avalia que o IBC-Br avançou 0,2% no último mês do terceiro trimestre.
A economista do ABC pondera, no entanto, que não vê traços de recuperação consistente da atividade. "O descolamento entre indústria e varejo parou de aumentar, não porque a indústria conseguiu alcançar o comércio, mas porque o varejo parou de crescer", observa Mariana, para quem a situação da economia é preocupante, já que não há no cenário fatores que podem impulsionar produção e vendas nos próximos meses.
Em sua visão, o baixo crescimento da economia e a consequente redução na geração de novas vagas no mercado de trabalho estão diminuindo a confiança dos consumidores, o que limita novas compras. Do lado da indústria, os entraves são considerados mais estruturais, como a baixa produtividade e o maior direcionamento da produção para a demanda interna, em detrimento das exportações.
O economista-sênior do banco Besi Brasil, Flávio Serrano, faz avaliação parecida sobre a conjuntura atual, mas estima que o IBC-Br recuou 0,1% em setembro, tendo em vista que a atividade industrial tem mostrado maior influência sobre o indicador do BC do que a do comércio. "O varejo conseguiu se recuperar apenas marginalmente. Não é um desempenho forte o suficiente para compensar o comportamento fraco da indústria", diz.
Serrano observa que, apesar da expansão no dado mensal, tanto o volume de vendas do varejo restrito quanto o do ampliado caiu entre o segundo e o terceiro trimestres: no conceito restrito, a queda foi de 0,4%, tombo que aumenta para 1,9% quando incluídos os ramos de veículos e material de construção. Para ele, os dados do comércio, que compõe a atividade dos serviços dentro do PIB, são um indício ruim para o desempenho desse setor no terceiro trimestre.
Sem contribuição do segmento que representa quase 70% da economia brasileira, é difícil prever retomada forte da atividade no período, afirma o economista do Besi. Por ora, o banco trabalha com relativa estabilidade do PIB na passagem trimestral, mas Serrano não descarta um novo recuo, ainda que pequeno. Para a média de 2014, a expectativa é de crescimento de apenas 0,2%.
Mariana, do ABC, projeta que a economia avançou 0,3% no terceiro trimestre em relação ao segundo, mas destaca que o cálculo ainda pode ser revisado. "A economia não deve ficar no negativo, mas este não é um resultado muito bom."
Fonte: Valor Econômico